Wednesday, August 31, 2005

Our Father Who art in Heaven – Unser Vater in dem Himmel

Modris Eksteins deixa bem claro que houve momentos de relativa paz no meio do caos da maior de todas as guerras. E sem dúvida a 1ª Guerra Mundial foi diferente, pelas novas tecnologias aplicadas, pelo uso das trincheiras, e por uma trégua incomum e que pode ter fomentado uma partida de futebol em plena guerra.

Tudo tem início numa manhã de véspera de Natal quando soldados alemães decoravam suas trincheiras com árvores de Natal e fogueiras (o que era impensável) e cantavam músicas natalinas, acompanhadas com certa desconfiança pelo lado dos aliados. Até que ocorre uma troca inusitada entre as trincheiras: uma garrafa de vinho dos alemães e um bolo dos britânicos. A partir daí, soldados franceses e britânicos, juntamente com os alemães saíram de suas respectivas trincheiras e passaram a povoar a terra de ninguém. Dá-se início a uma confraternização entre inimigos de guerra que se concretizava a cada instante ao passo que os altos oficiais pensavam em questões táticas. Enterros em valas comuns, malabarismo de um soldado alemão, serviços de barbeiro prestados por outro soldado germânico, além de diversas trocas de presentes de natal caracterizavam o ambiente utópico e quase irreal de uma diferente véspera de natal. Para completar o espaço de confraternização entre os “camaradas” só faltava uma coisa, uma partida de futebol.

Boatos difusos dão conta do entusiasmo dos soldados britânicos em jogar uma partida de futebol, porém diversas cartas enviadas para casa pelos mesmos, informam sobre uma partida contra os alemães. Em sua maioria essas cartas mencionam vitória alemã por 3 a 2, mas a falta de provas consistentes e a descrença de que seria possível uma partida de futebol completa, seja pela falta de uma bola adequada, ou mesmo pelas crateras da terra de ninguém põe em xeque a existência de tal evento.

No entanto, não seria mais importante pensarmos o que motivou inimigos de guerra a esquecerem, mesmo que momentaneamente, toda aquela violência que os cercava e se juntarem em cantorias, troca de presentes, ou até mesmo uma partida de futebol? Que sentimento inigualável é este que conseguiu uma brecha durante a mais violenta de todas as guerras?Com certeza é algo muito mais importante do que qualquer partida de futebol.

Em suma, houve sim uma partida de futebol na 1ª Guerra Mundial entre Ingleses e Alemães. O gramado? A terra de ninguém. Juízes? Com tanta gente armada, mesmo em momentos de trégua acho difícil. A bola? Não importa se foi lata de carne ou qualquer outra coisa. E o placar... Esse é o que menos importa.

2 Comments:

Blogger Manoela said...

A maior satisfação que tive neste período, até agora, foi a leitura dos capítulos selecionados de "A sagração da primavera".

A pior sensação que tive neste período, até agora, foi não ter comprado o livro inteiro.

Como dificilmente a academia proporciona, eis uma obra sobre os valores culturais e comportamentais por trás de um fato histórico. Correndo o risco de ir contra toda uma corrente cientificista, eu não consigo compreender como não possa ser "engessada" qualquer visão de um acontecimento que desconsidere os sentimentos e a expressão dos homens que nele estiveram envolvidos.

Adquirimos uma mania muito chata de "rotular" as coisas sem compreendê-las de fato. Foi o tempo do "revanchismo francês", do fim da "belle époque", do auge do "expressionismo" alemão. Se for pedido, entretanto, para explicar um pouco as origens e as realidades destas manifestações, quantos realmente saberão?

Peço desculpas pela minha redação, que hoje está realmente péssima, mas só queria deixar aqui registrado que achei o Eksteins um presente, em meio a toda uma teoria política hipercomplicada e a um curso de Direito que só me faz bocejar.

8:45 PM  
Blogger Anna Carol said...

Devo admitir que tenho atração por essas lendas da história e também por teorias conspiratórias. Discordo da Carla quando ela diz que muitos historiadores atribuem pouco enfoque às contribuições culturais; é lógico que essas "lendas" nem sempre podem ser utilizadas porque sua veracidade é contestada e muito difícil de ser provada. O que é certo é que casos como esse conseguem mostrar claramente um aspecto fundamental da guerra em questão (o que o professor ressaltou) de uma maneira menos, eu diria, didática. Mas com certeza bem mais bonita, não é mesmo?

8:49 PM  

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