Saturday, December 03, 2005

Santo Homem

“A desgraça do nosso tempo é a degradação do ser humano às vezes planejado por ideologias e sistemas políticos ou econômicos. Precisamos resistir e reconstruir o valor sagrado do homem”


Nasce em 1920, em Wadowice (região da Cracóvia) na Polônia, um bebê simples, que perderia sua mãe ainda menino e seria criado apenas por seu amado pai. Esse menino sonhava com o teatro, queria ser ator. Sempre pegava os melhores papéis nas peças da escola. Entretanto, por vias tortuosas, a vida o levaria a outro destino não planejado.

Karol Wojtila estava engajado na faculdade e em suas aspirações à vida artística, quando estranhos movimentos nazistas têm início na Polônia. Hitler ascendia na Alemanha; o idolatrado salvador dos alemães com suas ideologias que se estenderiam àquela região. Com as idéias da superioridade da raça ariana e espaço vital, levaria muito mal a quem estivesse em seu caminho, e a Polônia estava. Simplesmente por isso, a terra começou a ser bombardeada e as pessoas se apressavam em fugir para salvar suas vidas. Karol tentou sair de Wadowice com seu pai, sem sucesso. Viu muita gente explodindo na sua frente e o mundo se tornou algo difícil de compreender. Isso era só o começo do que estava por vir. As universidades foram fechadas, as reuniões proibidas e conseqüentemente, o teatro passou a ser apenas um sonho que teve que deixar para trás. Mas Karol estava entre os jovens que pensavam que era mais importante lutar para salvar a cultura do povo polonês do que pegar em armas. Para os alemães, poloneses eram apenas porcos sem cultura, sem história, sem valor algum.

Judeus tiveram que viver como ratos, escondidos em buracos. Muitos deles, amigos de Karol. Perdeu quase todos, seu pai também adoeceu e morreu. A essa altura, ele havia conseguido documentos para trabalhar em uma pedreira. Muitas perguntas eram comuns àquela gente. Por que será que não havia protesto no resto do mundo? Que espécie de seres humanos mataria outros por prazer? O que levaria homens, com corações batendo no peito, a torturar, humilhar e exterminar um povo? Em meio a esse caos, Karol se viu sozinho, mas não se rendeu ao ódio e a desilusão. Encontrou pessoas, leu livros, refletiu. Na filosofia, teria aprendido com Descartes que o homem está entre Deus e o vazio, ele optou por se aproximar do primeiro, sentiu-se chamado e aceitou a vida religiosa como missão. Os padres estavam sendo perseguidos na época e seu seminário teve que acontecer clandestinamente.

Tornou-se padre. Passava 8 horas de trem para manter-se em sua missão em Cracóvia e dar aulas de filosofia na Universidade de Lublin. Confortava pessoas, e sempre ajudava a quem pudesse; animava e encantava jovens com suas palavras sábias, seu jeito atlético e sua mente aberta. Deu-lhes respostas, ensinou-lhes o valor da honestidade e da coragem, que não viriam da força física, mas da força do espírito, do amor.

Foi perseguido então, não por nazistas, mas por espiões comunistas. Mal a Polônia se livrou do nazismo, começou a sofrer as conseqüências da censura e da repressão comunista da Rússia Stalinista. Os jornais foram todos destruídos e eram levados não se sabia para onde aqueles que falassem mal do socialismo. A influência da igreja incomodava e Wojtila era suspeito pelo seu carisma. Não conseguiram achar culpa alguma nele, que só estava comprometido com o bem e seria contra qualquer atitude violenta, revolucionária. Tornou-se bispo e em 1978, é nomeado Papa João Paulo II. O restante de sua história é bem conhecida. Nos 26 anos e 5 meses em que foi Papa, viajou o mundo inteiro espalhando mensagens de paz, amor e solidariedade, revolucionou a igreja católica, acabou com o que restava de conservadorismo desnecessário. Defendeu que a igreja católica deveria caminhar com a humanidade, deveria servir ao homem e não o contrário. Sabia que o mundo precisava de respostas e apoiou reformas que faria da igreja, uma fonte simples, acessível e inesgotável de respostas.

Sofreu no fim de sua vida, mas como Jesus, não abandonou sua cruz e morreu como Papa. Hoje, está quase se tornando santo, mas sua história, como a de muitos outros homens, é a história de um jovem cujos sonhos foram levados pela guerra. Mas onde aqueles viram a escuridão, ele viu a luz e onde aqueles viram a destruição, ele viu a salvação.

1 Comments:

Blogger Manoela said...

Ok, eu disse que não iria fazer isso, mas é preciso superar os preconceitos. O post do Papa.

Falarei apenas sobre a coisa de o homem estar entre Deus e o vazio. Discordo. Eu acredito em Deus, mas não acho que esteja perdido aquele que não acredita. A fé é mais uma forma de imposição de opinião - e não combina de forma alguma com o liberalismo. Por que quem acredita em Deus teima em dizer que sem Deus não há caminho? Como se pode saber?

É uma dúvida séria. Se a Igreja prega a igualdade e o respeito, ou, em último aspecto, se os crentes em Deus têm isto como princípios, por que não aceitar que outros pensem de forma diferente?

Eu juro que tentei evitar uma crítica, mas não foi possível.

A respeito do post, achei bastante informativo e interessante.

5:29 AM  

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