Friday, November 25, 2005

Vygotsky: a psicologia soviética

O bielo-russo Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) é chamado por muitos de "o Mozart da psicologia". Apesar sua vida curta, Vygotsky, extremamente culto, foi autor de uma obra muito importante, tendo entre seus amigos o grande cineasta Serghei Eisenstein, admirador de seu trabalho. Vygotsky é o grande fundador da escola soviética de psicologia, principal corrente que, hoje, dá origem ao sócioconstrutivismo.
Segundo Vygotsky, a natureza humana só pode ser entendida quando se leva em conta o desenvolvimento sóciocultural dos indivíduos. Não existe um indivíduo crescendo fora de um ambiente cultural. Desde o nascimento, o bebê passa a integrar uma comunidade marcada por hábitos, gestos, linguagens e tradições específicas, que orientam os rumos do desenvolvimento infantil. Para Vygotsky, o que nos torna humanos é a capacidade de utilizar instrumentos simbólicos para complementar nossa atividade. Quando aprendemos a linguagem específica de nosso meio sóciocultural, transformamos radicalmente os rumos de nosso próprio desenvolvimento. Assim, podemos ver como a visão de Vygotsky dá importância à dimensão social, interpessoal, na construção do sujeito psicológico.
Para os sócioconstrutivistas o papel da linguagem é fundamental. Mais do que uma simples auxiliar do pensamento, ela é uma poderosa "ferramenta cultural", capaz de modificar os rumos do nosso desenvolvimento. Outros sistemas simbólicos, como a linguagem matemática, também são vistos como poderosos instrumentos para a faculdade mental. O processo de aquisição de todos esses instrumentos é essencialmente dependente das interações das crianças com os outros, especialmente com adultos que utilizam e dominam as diferentes linguagens simbólicas.
O contexto em que viveu Vygotsky ajuda a explicar o rumo que seu trabalho iria tomar. Suas idéias foram desenvolvidas na União Soviética saída da Revolução Comunista de 1917 e refletem o desejo de reescrever a psicologia, com base no materialismo marxista, e construir uma teoria da educação adequada ao mundo novo que emergia dos escombros da revolução. Atento às teses de Marx e Engels, Vygotsky defende o pressuposto de que a materialidade histórica é constantemente plasmada pela ação de consciências envolvidas em processos de interação social. Seu projeto ambicioso e a constante ameaça da morte (a tuberculose se manifestou desde os 19 anos de idade e foi responsável por seu fim prematuro) deram ao seu trabalho, abrangente e profundo, um caráter de urgência. Grande parte de sua obra está sendo divulgada somente agora pois se no Ocidente sua teoria sofria de um “embargo” imposto pela Guerra Fria, até mesmo na União Soviética suas idéias entraram no grande expurgo promovido por Stalin entre os anos de 1936 e 1956 e sobreviveram somente graças à devoção de um grupo de discípulos. Felizmente, sua teoria sóciocultural do desenvolvimento é atualmente cada vez mais pesquisada no meio acadêmico.

1 Comments:

Blogger Manoela said...

Joan,

Achei o post interessantíssimo e tinha algumas viagens a fazer, mas infelizmente perdi meu comentário tantas vezes que fiquei desestimulada a escrevê-lo novamente.

:/

1:13 PM  

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