Thursday, November 10, 2005

"Vocês podem me acorrentar, torturar e até destruir meu corpo, mas nunca aprisionarão minha mente."


“Gandhi não foi um monarca de nações, nem tinha dons científicos...” (verso do DVD do filme)

O filme Gandhi, de 1982 , obteve um grande sucesso, ganhando 9 Oscars, após vinte anos levados para produzi-lo. Um filme biográfico do “homem do século XX” poderia tender a mostrar muito heroísmo, uma Índia livre romanceada e talvez ingleses bondosos após a Segunda Guerra Mundial. No começo do filme, já é dito que a História seria retratada da forma mais fiel possível, porém que ele tentaria tocar o coração das pessoas. E ,de fato, isso não foi difícil. O filme é longo, assim como a quantidade de tempo que ele relata. Entretanto, ele surpreende, e retrata uma situação inédita, paradoxal e diferente, conseguindo assim prender a atenção, mostrar fatos históricos e transmitir boa parte do que significou esse grande personagem da história mundial.

Formado em advocacia em Londres, esse pequeno homem de terno e gravata chega à África do Sul(em 1891) e ,ao se deparar com o apartheid, desperta sua consciência social e começa a mobilizar as minorias excluídas nessa batalha. Entretanto, seus meios de luta eram diferentes: seriam usados métodos pacíficos, como a queima dos passes. Inspirado pela “Desobediência civil” de Thoureau*, e outros livros que lia na prisão, e provocando cada vez mais o governo, Gandhi consegue concessões significativas às minorias da África do Sul, volta então à Índia(1915).

Chegando, já saudado por muitos, não se engaja na luta pela independência: ele resolve conhecer seu país, percorrendo-o por um longe tempo e observando a pobreza de perto. Interessa-se pela vida agrícola simples que levavam a maioria dos indianos, começa a usar roupas de algodão e prega a liberdade em relação a Inglaterra. Logo, ficou clara a força que aquele homem tinha para mobilizar as massas. Entretanto, nem todos concordavam com os métodos pacíficos, e a Índia, rumo à independência, foi palco de terrorismo, conflitos étnicos que começavam a surgir entre muçulmanos e hindus e massacres como o de Amristar que matou 15 mil civis indianos desarmados, entre eles homens e mulheres. Isso tudo entristecia Gandhi que utilizou o jejum e conseguiu mobilizar a Índia com a caminhada e retirada do sal do oceano, provando que todos poderiam ter sal, e os indianos poderiam fazer seu próprio sal do mar Índico. Além disso, foram queimados tecidos ingleses.

Pacifismo idealista ou Racionalismo? A tática de “dar a outra face”, o princípio da ação não violenta, era sim uma forma de luta e muito provocativa, como enfatizava Gandhi, ela transformava os indianos em vítimas e a metrópole em vilã, isso surtiu repercussão por toda a imprensa mundial. Portanto, a Inglaterra, terminada a Segunda Guerra Mundial, teria de ceder.

E foi o que aconteceu. É necessário ressaltar que Gandhi era contra a discriminação, sendo, pois, contra o sistema de castas na Índia, a “escravidão” das mulheres, e os conflitos étnicos entre hindus e muçulmanos na Índia. Por isso, quando começaram as negociações para a Independência ele não concordou com a tentativa de separar as duas etnias, mas apesar disso não pode impedir a criação do Paquistão para os muçulmanos.

O filme poderia ter acabado, quem sabe, com a cena do hasteamento da bandeira da índia independente(1947) e algum sorriso de Gandhi, mas resolveram relatar a História por completo e o que veio (já na noite da própria independência) foi o banho de sangue no conflito de indianos hindus e muçulmanos.Depois começaram os deslocamentos da população para as novas nações, seguidos por mais violência, e um Gandhi cabisbaixo, crendo na sua derrota e, novamente em jejum.

Esse homem conseguiu conter os conflitos por um tempo, a “loucura” do banho de sangue esteve fora das mentes dos indianos, entretanto, isso não impediu que ele fosse assassinado brutalmente por um hindu enfurecido pelas concessões que ele havia dado aos muçulmanos, como a criação de um país só deles. Sua morte(1948) causou comoção mundial, e contribuiu para adoração do “Bapu” (pai) na Índia, como um verdadeiro Deus.

Apesar do sucesso de Gandhi, não podemos ignorar que a política do “give to keep” (que inseriu dos dois novos países na commonwealth britânica) favoreceu a independência da Índia.

Mahatma (grande espírito) cria na eficiência de seu método de não violência contra Hitler e Mussolini. Mas seriam as mentes desses homens e a humanidade capazes de enxergar a “loucura” do banho de sangue da Segunda Guerra Mundial? Estariam eles cientes de que o bem sempre prevalece no final? Duvido.

“o olho por olho deixará todo mundo cego”
Gandhi.

*no blog dos calouros (http://fsim52.blogspot.com) há uma carta interessante feita pela Maria Júlia de Thoureau para Gandhi, sugiro que vocês leiam.


Fontes:

http://geocities.yahoo.com.br/gandhithatis/principal.html

http://www.gandhi.hpgvip.ig.com.br (para quem quiser saber mais, esse site é bom).

3 Comments:

Blogger Camila Pontual said...

Apesar de ter visto o filme há um bom tempo, concordo que Gandhi conseguiu um fato impensável. A independência da Índia, o movimento de desobediência civil se tornou um símbolo de como um povo pode vencer um grande império- embora a Grã Bretanha já tivesse em decadência. Mas infelizmente, Gandhi não conseguiu o que queria e isso não diminui seu feito. A violência entre hindus e mulçumanos embora não alcançada é ainda possível. Mayla, senti falta de uma abordagem do impacto disso no processo de descolonização, e nos movimentos de resistência em todo o mundo.

5:27 PM  
Blogger Manoela said...

Maylla,

Senti falta de algum comentário maior sobre o Nehru, que, afinal, era uma outra liderança política expressiva.

Eu ainda me impressiono quando ADVOGADOS fazem algo de bom pelo mundo. Desculpem pelo ceticismo com a classe...

5:36 PM  
Blogger Anna Carol said...

Hum.. acho que vou concordar com o Pedro. Perceberam como todos aqui defenderam tanto Gandhi? Ele está no nosso imaginário como o grande homem do século XX, mas acredito que o Pedro foi pertinente em mostrar como há instrumentalização das figuras. Sempre o perigo de romancear a história... Tiradentes me vem a mente (por favor, não que dê pra comparar as duas figuras). O meu comentário não é tanto uma crítica ao comentário dos colegas, mas sim para mostrar que que elite nacional não quer um herói? Gandhi faz perfeitamente o perfil: a Madre Teresa de Calcutá da causa da independÊncia com seus métodos de desobediência civil. Impossível negar a impressão mocinhos/vilões que a independência da Índia deixou.

10:05 PM  

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