Monday, November 21, 2005

Los tres grandes- os muralistas

"O Homem e sua encruzilhada" Diego Rivera

O movimento muralistas é considerado um dos mais ricos esteticamente do México. Los Tres grandes- Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Alfarro- são hoje reverenciados pelos seus belos murais espalhados pela Cidade do México. Os três eram marxistas que participaram de movimentos políticos. Seus murais mostram o desenvolvimento de um país agrário, de uma revolução única para um México moderno e industrializado. O México do surgimento dessas obras é um país que acabou de atravessar por uma revolução sem paralelos na história mundial, uma revolução de camponês que gerou uma “democracia”. A arte mexicana sofre um renascimento que tem suas raízes na situação sócio-econômica e política do México pré revolução. Na revolução e após a ela, essa arte se consolida e ganha fama mundial.


A escolha pela pintura em grandes painéis não foi ao acaso, essa decisão representa um suporte necessário ao proposto político que esses quadros tinham. Os artistas buscavam levar a arte engajada para o povo, sair do público restrito costumeiro, é uma tentativa – frustrada segundo alguns críticos- de levar a arte para fora das academias, das galerias. Os murais em geral, em prédios públicos também representavam uma forma de despertar a consciência política no povo. Para isso, os temas das obras eram grandiosos, retratavam a história mexicana, as cenas de sofrimento e luta dos camponeses, dos operários. Com temas muito engajados, a arte corria o riscos de cair num “panfletarismo”, num empobrecimento da estética em prol dos fins políticos. Fato que não ocorre devido ao brilhantismo artísticos dos três. A arte política ainda mais feita num momento muito significativo da história mexicana, tem sempre um problema, a facilidade de cair no óbvio, na banalização. Acredito que a obra dos três representou uma reflexão a partir do momento que conseguiu unir uma mensagem política forte com uma beleza, sair do óbvio e não subestimar o público.


Os quadros do grupo não apresentam uma homogeneidade estética, elas são de uma grande abrangência de técnicas. Os traços mais redondos, suaves com fortes cores de Rivera contrastam com os traços mais marcantes de Orozco que usa mais cores terrosas. Siqueiro com seu forte trabalho da luz também se destaca dos três. A forte influência de Cézanne e do cubismo em Rivera é clara em seus quadros. A plasticidade alcançada por Rivera, o mais famosos dos três, foi alcançada através de um método um tanto inovador de pintura sob a argamassa molhada. Quero aqui avisar que isso são observações acerca de alguns dos murais não representando a totalidade da obra dos três.


Os três foram membros do Partido Comunista e criaram União de Trabalhadores técnicos, pintores e escultores na qual tinham suas idéias políticas divulgadas pelo jornal panfleto El Manchete órgão oficial do Partidão. O Siqueiro vai, inclusive, para a Espanha lutar contra os fascistas. Com a vitória de Franco volta ao México onde pinta seu mural famoso “Retrato Del Bourgeiosie”. Durante a segunda guerra, seus murais representam a luta contra o fascismo como “Muerte al invasor”, “um nuevo dia para la democracia” e “Fraternidad entre las razas negras y blancas”. Siqueiro foi preso, em 1959, por apoiar os lideres da União de Trabalhadores de Ferrocarril. Mesmo depois de solto, o artista continuou como partidário do marxismo mundial, sua produção artísticas foi estudada para ser orientada para um maior número de pessoas, para a percepção política nos espectadores ser despertada. Ele tem um estudo nos seus murais de dinamismo de planos e espaços para esse objetivo final. Rivera, líder político chefe da escola pictórica, teve uma fama tão grande que acabou sendo contratado por Nelson Rockfeller para pintar o mural do Rockfeller Center. A obra foi destruída pelo fato da situação paradoxal criada por Rivera que pinta no Centro do capitalismo mundial a cara de Lênin como um homem evoluído. Esse mural está atualmente reproduzido no Palácio de Belas Artes no México. Orozco tem na história mexicana o tema recorrente dos trabalhos. Quando em NY, aborda a questão da revolução mexicana, da desumanização e da mecanização da vida na metrópole. Em seus últimos anos se aproxima do expressionismo. A arte dos muralistas tem paralelos com a situação política mexicana e mundial.

É interessante notar que embora essas obras tinham como finalidade de despertar a consciência política no povo, ressaltar a identidade nacional, valorizando a arte pré-hispânica ela continuou sendo apreciada por poucos. A busca de apresenta-la em locais públicos, prédio e instituições governamentais, mostra uma certa relação cordial entre governo e críticos. As obras dos muralistas não alcançaram suas finalidades, mas inegavelmente forneceram ao mundo maravilhosas obras e tornaram a Cidade do México mais bela, além de divulgar a arte mexicana graças ao seu sucesso. Umas das criticas ao movimento foi de que o retrato dos camponeses, dos operários não correspondiam ao publico consumidor independente do povo ter despertado a consciência política desejada pelo três grandes, a partir dos murais mexicanos foi demonstrada que a arte engajada pode ser bonita, ser interessante e que os murais se tornaram um recorrente suporte para esse tipo de arte, como mostra os grafiteiros que têm forte correspondência com os muralistas.

6 Comments:

Blogger Camila Pontual said...

Quero avisar que tentei publicar com a foto do famoso mural Hombre en una encrucijida de Rivera, mas não consegui. Se alguém souber como, me ajude

11:16 AM  
Blogger Camila Pontual said...

Por uma incorreção minha na parte que disse o nome dos três grandes, não coloquei o nome completo de David Alfaro Siqueo o qual voltei a citar só como Siqueiro, causando uma estranheza, aparentendo que ele não estava entre os tres grandes. Enfim, Siqueiro é David Alfaro Siqueiro.
Quanto a informalidade, concordoq eu exagerei, mas é por que tentei não paracer tão academicistas, afinal os muralistas buscavam a informalidade em suas obras
Não sabia que Siqueiros tetou matar o Trotsky. Estou cada vez mais apaixonada por arte, e pelos muralistas.

8:00 PM  
Blogger Camila Pontual said...

Esse comentário é da Manoela que não conseguia postar. Sou apenas a intermediária
Camila,

Incluo os muralistas em duas categorias. A primeira: "discordo de tudo que digas ou faças, mas defenderei até a morte o direito de fazê-lo". A segunda: "na arte, pela arte, tudo é considerável e tudo é perdoável".
Isto porque acredito que o comunismo, quando aparecendo em pessoas como Diego Rivera (cuja obra conheço ligeiramente melhor), seja um pouco paradoxal, como você fez questão de mostrar. Quer dizer; quão grande pode ser o comprometimento com o movimento se houve venda de murais para os capitalistas norte-americanos?
(Em via contrária: por que não deveria haver? No fim das contas, até a arte devesse ser transnacional)

Por essas e outras, talvez eu não seja contra as idéias revolucionárias ou contra as revoluções. Entendo de forma positiva o ocorrido no México e acredito que os movimentos populares devessem ter ido além.

Só não gosto, mesmo, da apropriação comunista e da história comunista por trás, porque, infelizmente, os casos me soam sempre parecidos... pessoas que se diziam marxistas sem o serem - ou, diversamente, marxistas que não percebiam que nem Marx nem qualquer outro deveria servir como argumento de autoridade.


Para finalizar, quero dizer que adorei o post. Sem querer desmerecer os outros meses, mas novembro está sendo realmente especial para este blog.

Estamos falando de artes... e artes pouco óbvias. Muito bom mesmo.

8:45 PM  
Blogger Camila Pontual said...

Pedro,
É interessante notar que a maioria dos murais brasileiros são do modernismo, que possue uma estética bem diferente da dos painéis mexicanos. A questão da cor é realmente distinta, mas de forma intencional. E discordo do fato que a ausência de um colorido seja um empecilho à beleza e ao objetivo da obra.

12:04 AM  
Blogger Anna Carol said...

Tendo que me juntar ao rol dos ignorantes, devo ressaltar que lendo seu post lembrei que o projeto de educação no México à época da Revolução era um que tentava aproximar o ensino da realidade dos camponeses. Achei isso simplesmente maravilhoso! Será que o fato do México ser um Estado laico contribuiu para isso? Quero dizer, será que a determinação de que o ensino seria laico foi um passo fundamental para que esse projeto pudesse se concretizar?
E não, não esqueci que estudamos numa universidade católica, são apensa divagações...

6:14 PM  
Blogger Debs said...

Camila,

Seu post aguçou minha curiosidade em relação à estética muralista que desconhecia até então. A primeira impressão que tive foi a de proximidade com os pintores modernistas brasileiros. Mais especificamente eu visualizei "Operários" da Tarsila e "Café" de Portinari. Realmente as cores são menos fortes, mas traduzem o mesmo ideal de aproximação com o popular, mesmo não utilizando paredes como suporte para suas obras.

Achei um site interessante sobre o Rivera, onde é possível observar os principais murais e usar a ferramenta de zoom para encontrar detalhes interessantíssimos, como o rosto do Lênin a esquerda da obra "O Homem e sua Encruzilhada".

O link está aí pra quem quiser conferir.

http://www.riveramural.com/article.asp?section=mural&key=998&language=english

3:48 PM  

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