Nós devemos vigiar mais os nossos filhos!

O trabalho minucioso dos investigadores não alcança resultado algum. Batidas são feitas diariamente pelas vielas do submundo, os camburões já não comportam mais nenhum meliante. Apesar de tanto empenho, o assassino ainda está à solta e escarnece do esforço policial em sua nota sombria: “Ainda não acabei”. Enquanto o povo se agita nas ruas e o alto comando exige providências, a polícia segue rastros imprecisos: fichas de hospitais psiquiátricos, vestígios de doces em lixeiras e grafite vermelha usada para escrever o bilhete.
Nesse triste quadro, são as tristes figuras que assumem os papéis de destaque. Incomodados pelas constantes visitas dos representantes da lei, os bandidos reúnem-se no Sindicato dos Trapaceiros. É preciso eliminar o assassino antes que seus negócios vão à falência! Uma parceria com o Sindicato dos Mendigos cobre a cidade com uma rede insólita de espiões maltrapilhos. Eles estão em todos os lugares e não levantam suspeitas. Onde houver uma criança, lá estará também um par vigilante de olhos mendicantes a espreitar em busca do menor sinal do Mörder. Apesar de tantos olhos atentos, são os ouvidos de um velho cego que apontam o culpado. Ele não esqueceu a melodia que pairava no ar da última vez em que vendeu um balão à pequena Elsie, a última vítima do Vampiro. Sua colaboração coloca o submundo no encalço do criminoso. Para identificá-lo, um M é gravado em giz em sua capa. O M “garranchado” em branco reluz em seu sobretudo negro.
Acuado, Becker (é esse o nome dele) é finalmente cercado e preso. O sindicato mostrou-se mais eficiente do que a força policial. Na República de Weimar pode-se esperar de tudo, mas o mais provável é que o inesperado aconteça. Reunidos em assembléia os trapaceiros esperam o prisioneiro para o julgamento. Ele tem direito a um advogado, mas sua sentença já está definida desde antes de sua captura. A morte será seu castigo. Um último apelo ainda é feito por aquele designado a ser seu defensor: “- O Estado é que deve tomar medidas que o tornem inofensivo para que ele deixe de ser um perigo para a sociedade!”. Mas a resposta é uma sonora gargalhada. O Estado! Nessa Alemanha ele é o último elemento a ser considerado.
Aposto que você está pensando que acabou. Já consegue até ver a multidão enlouquecida pendurando o vilão numa forca, mas lamento destruir seus devaneios. A polícia chega ao local guiada por um delator. "Em nome da lei você está preso!" É a última fala que se escuta enquanto um policial segura o assassino e o livra da morte certa. Agora seus devaneios sobre forcas e linchamentos devem ter sido substituídos por um profundo questionamento. Talvez até um cínico pensamento: E eu com isso!? Tomo a liberdade de encerrar então da mesma maneira que o diretor: "E nós... Nós devemos vigiar mais os nossos filhos!" Entenda como quiser.