Papel da Democracia!? Quiet American - Graham Greene

“Esta é a época patente de novas invenções
Para matar os corpos e salvar as almas,
Tudo propagado com a melhor das intenções.”
Byron
Início da década de 50. Documento CSN 68 conclui que o equilíbrio global encontra-se em risco na Indochina: “... qualquer extensão substancial adicional da área sob o domínio de Kremlin daria lugar à possibilidade de que nenhuma coalizão adequada para enfrentar o Kremlin com força maior poderia ser reunida”. Sob a liderança de Ho Chi Minh, do Partido Comunista, vietnamitas lutam contra a presença colonial francesa no país. Comandados pelo General Vo Nguyem Giap, vietnamitas cercam o inimigo em Dien Bien Phu (fortificação francesa) em 1954 e as tropas francesas são vencidas. Sob pressão dos EUA, o Vietnã é dividido em Vietnã do Norte (capital Hanói, socialista) e Vietnã do Sul (capital Saigon, capitalista) e o conflito se acirra. É nesse contexto, em Saigon, que as histórias de Thomas Fowler, Alden Pyle e Phuong se cruzam.
Thomas Fowler é um jornalista inglês. Um homem que foi para o Vietnã para acompanhar o conflito de perto, mas principalmente, para fugir de sua vida na Inglaterra. Apesar de ser europeu e estar escrevendo para pessoas interessadas na vitória francesa, ele insiste em sua neutralidade. Contenta-se com as suas reportagens, com a companhia de sua amante e seu ópio até conhecer Alden Pyle. Percebe então o quão difícil é não tomar partido quando se está no meio da guerra. Pyle é um sonhador norte-americano, que durante boa parte na narrativa, se mostra misteriosamente leal e até mesmo ingênuo. O papel do Ocidente de York Harding é o livro que o acompanha em sua missão no país. Pyle se apaixona por Phuong, a amante de Fowler, e é interessante como lidam com a questão da amizade em uma situação delicada como essa. Fowler é um homem mais velho e vê em Phuong uma companhia para a sua última década de vida. Pyle, jovem, sonha em se casar com ela e levá-la para a América. Contudo, as divergências entre os dois só se tornam graves no que diz respeito ao futuro do Vietnã.
A obra de Greene é um tanto amarga como seria qualquer história em meio a uma guerra. Quando se começa a ler, percebemos que ela foi escrita por alguém que realmente esteve naquele cenário. (De fato, Greene viveu em Saigon entre 1952 e 1957, como correspondente estrangeiro do jornal The Times). O calor, a tensão, a vulnerabilidade dos personagens, tudo é tratado de maneira muito pessoal e envolvente. Até mesmo Fowler, o inglês experiente e egocêntrico, aparentemente inabalável, sensibiliza-se diante das atrocidades que presencia ao ir para o Norte. Lá, ele se depara com aldeias destruídas, famílias inteiras mortas e se pergunta o porquê de tamanha crueldade. Os comunistas fariam aquilo? Que interesse eles teriam em atacar civis? Teria sido obra dos franceses! Mas a censura não permite que tal coisa seja publicada. Os conflitos internos aumentam, quando precisam, ele e Pyle, passar a noite em uma tôrre. Dois soldados muito jovens e assustados o recebem. Mais uma juventude ocultada pela guerra, pensa Fowler.
O aspecto político de Quiet American destaca-se com o debate a respeito da liberdade. No início dos anos 50, os americanos já haviam começado a se envolver. A presença de Pyle, como agente da OSS (hoje CIA), com todas as suas idéias de democracia demonstra bem isso. Acreditava na Terceira Força, que não seria nem o colonialismo francês e nem o comunismo dos Vietmihn. A Terceira força era a democracia. Mas que liberdade ela traria ao povo vietnamita? Estariam os camponeses, ao chegarem aos seus barracos, interessados em liberdades políticas e civis? Na existência dessa liberdade, os vietnamitas não votariam no comunismo pelo qual lutavam? Quanta hipocrisia! Mas temos que concordar com o autor predileto de Pyle, York, quando diz que “os bons administradores que tornam difícil mudar o sistema”. Realmente muito difícil não tomar partido.